Volta com alta quilometragem
E meu recorde pessoal de quilômetros em um mesmo dia: 1500 Km
Texto e fotos Neno Brazil
Em 2006 estávamos quase completando a Volta Patagônica,
(aqui) saindo do Chile pelo Paso Futaleufu em direção a Bariloche quando
o Gama, meu parceiro nessa trip com a sua Toya 1987, disse que ao chegar em Bariloche
ele queria ir direto pra casa...
Paso Futaleufu um lugar que eu ainda quero voltar. |
Eu, que ainda tinha alguns dias de folga e queria ir novamente ao Chile na região de Pucón, Talvez subir o Villarica novamente (Aqui) , ou voltar ao Futaleufu, não concordei.
Mas o Gama insistiu, precisava voltar devido a um
compromisso de trabalho, conheço meu amigo é um profissional exemplar e devia
ser séria essa pauta, mas eu não tinha motivo para sair correndo de volta pra
casa, conversamos durante o almoço em El Bolsón e definimos a situação:
Eu tinha muito mais quilometragem de Argentina do que o Gama e ele estava
apreensivo em cruzar o país sozinho, mas ele é acostumado a viagens longas
dentro do Brasil. Falei a rota para Fray Bentos, que eu conhecia em parte de 1992 e também de 2005, e nós calculamos a
distância, diesel, horas, e estimamos que ele chegaria em Floripa em três dias.
Bariloche chegando do sul |
Despedida em Bariloche
Fomos juntos ainda até Bariloche, onde nos despedimos, abri
o mapa em cima do capô da Verdinha na entrada da cidade vindo do sur, tiramos as últimas dúvidas
e dividi uns pesos que eu tinha a mais com ele para ele poder ir direto e não ter que
parar ou entrar em cidades para câmbio etc..., logística e parceria da Volta
Patagônica. Ele veio direto sem entrar em cidades, parando, comendo e dormindo nas Estaciones de
Servicio YPF, praticamente Jipe-Home, e chegou a tempo para o compromisso, fiquei sabendo dias depois.
Bariloche vista do outro lado do Lago Nahuel Uhapi |
Nos trechos anteriores no rípio, uma vez na Ruta
40-AR e outra na Carretera Austral-CH, tive um pneu furado e, não lembro
o detalhe, mas nas duas vezes eu precisei usar o macaco do Gama junto do meu para poder efetuar a troca.
Então, pensando em autonomia, saí por Bariloche para comprar um “Macaco” 5 ton , encontrei uma loja de
ferramentas e fui ao balcão com meu Portunhol avançado 5 (aprendido em cinco
viagens): Necessito de um “macaco”! O atendente espantado sorriu e deu de
ombros, Quê? macaco!? Aí apelei para mímica, apontei para o Toyota, falei
em “cambiar las gomas” que aprendi furando uns pneus alguns quilômetros antes rss..
E o cara deu um sorriso e exclamou : Ah!.. um Gato! Usted
necessita de um Gato! Mais uma pro meu dicionário de viagem, aquela
ferramenta que levanta os carros para trocar pneus na Argentina chama-se: Gato!
Então comprei o tal macaco por “Gato”, só que 3 Ton, e fui relaxar em Bariloche,
primeiro achar um hotel pra tirar a poeira da Patagonia, depois ir num Pub Irlandês
tomar uma Guinnes.
Suite Designs Hotel em 2005 |
Quando eu estava na frente do Suite Designs Hotel pensando em me hospedar ali, onde eu havia ficado com a Chi no ano anterior e gostei do Hotel, o telefone tocou para minha surpresa, a telefonia patagônica era precária naquela época. Era meu sobrinho Antônio, achei que era trabalho, disse brincando que ainda estava de férias em Bariloche e ele enrolou , eu perguntei o que era, ele disse: O vô está no SOS Cardio!
Depois de uma boa conversa
sobre a gravidade da situação cardíaca de meu pai que estava então com 86 anos, resolvi me
hospedar ali mesmo para poupar tempo, desestressar do rípio e da poeira patagônica e sair
no outro dia de manhã cedinho para voltar direto também, agora pelo asfalto, devia
ter ido com o Gama? Fiquei pensando.
Placa com dinosauro atração de Neuquén |
Pra esquecer um pouco fui dar uma volta no longo fim de tarde local, era uma cidade bem pequena, típica dos pampas e estepe argentinas, mas na beira da estrada um grande posto de combustíveis era a parada de diversos caminhões, acabei tomando um chimarrão com um caminhoneiro de Concórdia SC, meu estado, na conversa falei que estava indo pra Buenos Aires querendo chegar na Ilha logo que possível. Eu pensava em ir por Baia Blanca a 444 km e depois mais 636 km até Buenos Aires estava decidindo onde parar para chegar cedo na Capital para tentar pegar um Buquebus.
Mas entre um chimarrão e outro o caminhoneiro de Concórdia, desculpe mas esqueci o nome, me deu uma dica preciosa, fiquei grato pois me economizou um dia ou uns 400 Km, ele disse: a uns 50km daqui, vais ver uma estrada a tua mão direita, é um trevo feio e a estrada é pior ainda, mas dá pra trafegar, eu mesmo puxo maçãs aqui de Neuquén faz uns 15 anos e passo sempre por ali, chega em Buenos Aires, ou no caminho para Fray Bentos UR, bem mais rápido. Hoje, olhei no Google, a estrada está um tapete, mas naquela época, 2006, estava bem ruinzinha, se ele não tivesse me dito para entrar ali eu nunca entraria, ainda bem que fui cedinho e o pior trecho pequei todo pela manhã, Toquei direto.
A linha vermelha é a volta desde Bariloche até em casa, 15mil km, a linha tracejada foi o trecho economizado. |
Segui pela precária Ruta 232, passei por Gobernador
Duval, onde cruzei o Rio Colorado e subi até a estrada virar Ruta
152, um pouco melhor o piso conforme havia dito o parceiro de estrada, o caminhoneiro.
Passei uns quilômetros de General Acha, como não achei nada, então peguei o rumo norte na Ruta 35 para Santa Rosa onde tentei comer um
sanduiche sem carne... Não havia.. rss
Até Santa Rosa já tinha rodado 398 Km e queria chegar em Buenos
Aires e completar 978Km pois já estava sem celular desde um pouco depois de
Villa Regina.
Mário cuidando da Toya em 2005 |
Resolvi tocar, mas tinha um problema nessa toada eu iria chegar em Buenos Aires a noite e eu estava com um dos Faróis Cilibim (Selead Beam) queimado, o Mário mecânico em Esquel disse que eu só encontraria fárois deste tipo em Buenos Aires, então como entrar na cidade sem correr o risco de ser parado pela simpática Policia Caminera Argentina? Um pouco depois da cidadezinha de Azul parei ao lado da estrada num gramado e retirei os dois faróis de milha que eu havia colocado em cima, na frente do bagageiro da Toya, eles estavam estrategicamente desligados o fio enrolado para dentro da cabine caso a polícia chiasse eu diria: são só para ligar nos desertos patagônicos.
A Verdinha na volta com os farois de milha na grade. |
Fixei os faróis de milha na grade abaixo dos faróis originais
e puxei o fio, que alcançou a grade por milímetros, liguei os faróis auxiliares
e já podia entrar na capital federal argentina. Entrei em Buenos Aires
tarde para os meus padrões, devia ser umas 9:30h e confundido pela noite na
autopista peguei uma saída muito antes do centro onde eu já me localizava bem.
Rodei pelos bairros, meu GPS Garmim na época era muito
limitado, mas dava a direção do centro, eu acreditava.. Rodei até que numa
sinaleira pedi informação para o carro do lado, donde está el obelisco de la
Plaza de Maio? ele tentou me explicar pela janela, mas o sinal abriu ele fez um sinal: siga-me. Fui meio incrédulo
com a hospitalidade portenha, mas chegamos a uma Rua e ele estacionou e veio
falar comigo, perguntou de onde eu era,etc.., resumi minha viagem desde Villa
Regina ele se espantou e me apontou o obelisco, Gracias hermano já devia ser umas 10:30h.
O bom e velho Café Tortonni |
1500 Km direto até a Ilha de Santa Catarina
Colônia del Sacramento |
Acordei agora com contato telefônico, comprei um carregador em Buenos Aires,e com o recado do pai: Vem devagar!.. Atravessei o Uruguai dessa vez direto e quase sem fotos, a viagem foi boa estrada liberada e eu ligado no carro que respondia muito bem, só parava pra abastecer de combustível, um lanche um café e on the road again
Forte de Santa Tereza no Uruguay - foto 2008 |
Achei que dormiria em Porto alegre como sempre no
Restaurante do Manolo, mas cheguei na ponte sobre o Guaíba as 20:00h e pensei:
Preciso chegar, estou a um mês e pouco fora de casa e a minha cama está só a 6
horas de viagem, tomei a decisão de prosseguir, afinal a viagem tinha sido
ótima até aquela hora a Toya vinha perfeita só pedia diesel e rodava
maravilhosamente, até chegar em Osório RS onde ameaçou chuva o que podia mudar
o astral da estrada. E choveu pacas nesse último trecho, a Toyota veio empurrando
alguns motoristas com "excesso de cautela" nos desvios bem sinalizados da duplicação da BR 101.
A Toyota veio bem, mas eu com a duplicação da BR 101 com chuva
até Palhoça, já perto de casa só venci com muito café e uns Red Bull pelo caminho. Só sei
que no total esse último trecho desde Colônia del Sacramento foi de 1500 Km até a minha casa no Cacupé Ilha
de Santa Catarina, cheguei na ponte buzinando a 1:30h passadas. No outro dia as 7:30h já
estava tomando café com o pai e trocando umas ideias sobre a viagem.
Ponto alto da Volta Patagônica em 2006 - USHUAIA aqui |
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