segunda-feira, 1 de julho de 2019

2.000 km Bate e Volta em Minas Gerais sô!

Fiz as filmagens e fotos desta postagem de Minas Gerais, mas algumas das fotos são do Renato Gama ou do Junior Saraiva.



Depois da Viagem de 13.400 km de Suzuki intruder 125cc feita agora em 2019 pelo nosso amigo Junior Saraiva nos reunimos eu, o Gama, o Junior e o Lucas na minha casa no Cacupé para apreciarmos juntos no mapa já bastante riscado da ACA (Automóvil Club Argentino) os relatos de mais um marinheiro de primeira viagem.

Eu e o Renato Gama fizemos em 2006 a volta patagônica onde rodamos 15,500 km em torno da região, temos outras viagens longas estilo outlander no currículo cada um. Mas o Junior Saraiva nunca tinha saído do país rodando nem de Jipe nem de moto, nem em grupo nem sozinho. Foi corajoso e se jogou pela BR 101 e depois por la Ruta 3 abajo até Ushuaia a cidade mais austral do mundo. (aqui)

Depois de ouvirmos os relatos do Junior sobre as lonjuras patagônicas e constatarmos nossa empatia por termos tido as mesmas impressões da região austral, da Ruta 3 e a famosa Ruta 40. Falando de trechos longos e do comportamento da moto e das Toyas acabou surgindo a ideia de irmos com a Toyota Bandeirante do Junior – a Bruta- salvar a – Excalibur – Band do Renato Gama.



O Renato está acabando uma grande reforma geral da Excalibur que ficou zerinho na nova versão híbrida metade fibra metade lata ainda. Só que a reforma foi feita em Machado, MG. Cidade do sul de Minas a 1000 km da Ilha de Santa Catarina onde moramos. Ele viaja para a região para estudos faz muitos anos e percebeu que onde se planta café existem muitas Toyotas Bandeirante, principalmente pick-ups usadas no campo e na colheita do café.

A capacidade de trabalho e robustez das velhas Toyotas ainda não foi suplantada pelos novos veículos lançados depois. Como existe demanda as oficinas de lá se acostumaram a trabalhar com esses carros.
Nessas viagens a Machado o Gama conheceu o Italiano, um mecânico com uma oficina especializada na linha bandeirante e o seu filho que toca uma loja de peças Toyota em cima dessa oficina em Minas Gerais. Daí saiu uma grande amizade e vários serviços feitos na Excalibur até que ele resolveu reformar definitivamente o carro chegando a trocar o principal, o caixote do chão do jipe inteiro.

A viagem

Tudo combinado saímos da Ilha de Santa Catarina no dia 03 de Junho de 2019 as 19:30 para cumprir 1000 km com o Renato Gama, que já fez uma centena de vezes esse trecho, como “GPS humano” rss  O Junior pilotando e colocando um som atrás do outro até que percebeu e ficou só no roquenroll: Beatles, engenheiros, Titãs, depois escolhi um Alceu, ele colocou Almir Sater e fomos indo.

 


Viagem longa noturna, a ideia era cada um dirigir um trecho pra ficar mais leve, mas o Junior sentou na boleia da Bruta e foi tocando.
Eu tinha muito medo de pegarmos nevoeiro na subida de Curitiba e no Vale do Ribeira, uma vez indo pra Sampa de Besta peguei um que não se via nada, mas foi tranquilo, noite limpa, movimento normal de carros e poucos caminhões e a gente conversando sobre as marchas, o turbo, intercooler essas coisas que só toyoteiro conversa.



A Bruta é uma 1985 quatro marchas, turbinada muito bem conservada pelo Junior. Ela perdia o embalo devido ao cambio de 4 marchas e quando reduz pra terceira numa serra é uma diferença muito grande de marcha e vai muito lenta. Discutíamos as marchas a cada curva, mas tudo com muita brincadeira e pegação de pé. Eu achei, mesmo sem ter dirigido no final, que com 4 marchas por ser turbinada a Bruta ia render mais nas subidas, lá em minas avaliamos os gastos e a Bruta fez quase 10km/litro o que é muito bom para viagens longas. O ritmo era ditado pelo GPS humano 80km/h, radar 60km/h, 40 km/H, rss.

Lá eu vi também que o escapamento dela ainda é muito fino para a turbina, talvez o original, o que pode estrangular um pouco o desempenho em subida. Na Verdinha eu refiz dimensionado para o fluxo do turbo e ficou muito bom, apesar da minha caixa ser de 5, logo percebi a diferença na troca do escape.



A rota que o Gama faz pra ir até o sul de Minas é muito interessante corta caminho no contra-fluxo do movimento do Rush devido ao horário. Fomos em direção a Sampa, pegamos o Rodoanel e saímos do Rodoanel em Mairiporã, continuamos por bairros de cidades da grande São Paulo até achar a Fernão Dias e seguir pra Machado. Já próximo a cidade e por dentro de Minas ele pegou uns trevos por ali, mas confesso que não gravei estava de carona numa posição insólita para quem pilota Toyotas há 30 anos na boléia em trechos longos, dificilmente ando sentado no banco de trás numa Toyota hehe.



Mas o Saraiva não quis entregar a boléia da Bruta pra ninguém, ciumento!!.. o Gama perguntava de meia em meia hora: Tudo bem aí Tio!? E ele: Tudo!! E as vezes, geralmente junto das paradas para abastecer ou quando necessário: Um cafezinho!! Foi assim por 1000 km 18 horas da Ilha até Machado, MG. Acho que depois de conversarmos tanto sobre o quanto cada um de nós já tinha dirigido nas viagens patagônicas, 1100, 1200, 1500km no mesmo dia o Junior se empolgou em bater o seu primeiro recorde com a Bruta. E bateu 1000km! Mas pra quem fez o que ele fez recentemente de Suzuki 125cc, nem precisava...


A Cidade

        

A 1000 quilômetros de distância da nossa ilha, Machado MG, tem 50 mil habitantes, mas nem parece é uma cidade rural, a 845 msnm está a praça principal onde paradoxalmente não encontrei uma igreja antiga como é comum em MG. Mas encontramos muitas Toyotinhas pick ups pra lá e pra cá, uns fuscas também e até Rural e F75.

Wikipédia: " Há várias versões sobre o nome "Machado", a mais conhecida relata a história de um lenhador, que trabalhava ao lado de um rio e derrubou seu machado nele. A partir daí o rio ficou conhecido como Rio Machado, que logo depois deu nome a cidade. Outra versão diz que a primeira família, de sobrenome Machado, fundou um pequeno vilarejo naquela região".
A cidade já se chamou Santo Antônio do Machado, mas acabou ficando com o nome do rio batizado pelos Machado, antigos proprietários da sesmaria onde fica hoje a cidade.

Almoçamos na chegada da cidade que é rodeada de cafezais ao lado da estrada, café pra todo lado, mas paradoxalmente não encontrei e tomei um bom café expresso no primeiro dia lá.

A Oficina



Chegamos na Oficina, plaquinha de acrílico da Toyota serviços, pátio cimentado e todos os carros Toyota, quer dizer havia uma F75 da Ford linda, estavam acabando de pintar os detalhes em verde do exército (era azul), mas não vi a Excalibur... Conhecemos logo o Baiano, funcionário padrão, o Emerson, dono da loja de peças Toyota no segundo piso  e o Italiano como é conhecido o dono da oficina.

O Emerson na lida com um Teto de Pickup
O Italiano, 61 anos, mecânico de Toyotas a vida toda, e como bom mineiro gosta de conversar. Juntou os Toyoteiros da ilha com os mecânicos de Toyota mineiros e a conversa foi boa só parou quando o “Tio” Gama disse: Vocês vieram aqui para trabalhar ou pra jogar conversa fora?  rss...  Depois dos risos começou o planejamento.

Começaram a ver alguns probleminhas na Bruta enquanto o italiano foi buscar a Excalibur num outro local. Durante a viagem da vinda o Gama percebeu uma vibração e viemos conversando o que seria, caixa, diferencial, cardã? O Gama apostava que era o cardã que estava frouxo e batata! Foi só o Baiano apertar as cruzetas da Bruta e o cardã voltou girando em silêncio.
De repente, nós ali na frente da oficina, chega a Excalibur trazida pelo Italiano, linda com seu novo tom de azul e montadinha, inteirinha.

Achei que ela estaria mais inacabada para levarmos ela rebocando, assim como estava vendo parecia pronta pra descer para a Ilha. Mas não, o Gama teria que refazer toda a elétrica aqui na ilha com planejamento de especialista dimensionando até os fios e nova caixa de fusíveis acessível, coisa de quem já viajou muito e sabe do que precisa na hora h.

A Gincana



A Excalibur conta com um acessório que é o famoso cambão triangular para ser rebocada sozinha. (já vi muitos carros sendo puxados assim) Aliás na Volta Patagônica em 2006 as duas toyas estavam com ferragens de espera no para-choque para poderem trocar o cambão e rebocar uma a outra se fosse necessário naquelas lonjuras, o que graça a deus não foi.



Passamos o primeiro dia montando um gancho (bola) de reboque na Bruta para poder rebocar a outra, enquanto isso o Gama arrumava as sinaleiras traseiras da Excalibur para funcionarem sincronizadas com as da Bruta que a rebocaria de volta. Como eu estava só ajudando fui procurar e achei um hotel razoável e barato para literalmente nos "apagarmos" nessa noite. Depois de passar 18 horas rodando e sem dormir passarmos o dia todo entre tornos soldas e operações mecânicas. Comemos uma pizza ao lado do hotel e cama, as 5 da manhã uns mineiros pararam para conversar bem embaixo do hotel, acordei as 5!  Mas satisfeito com as viaturas prontas, hoje seria só terminar a elétrica das sinaleiras traseiras da Excalibur testar e engata-las para ir embora, pensei.

Amanhecer na praça de Machado vista do Colinas Hotel.
Depois do bom café da manhã no hotel, inclusive o próprio café, hehe, voltamos para a oficina que estava abrindo as 7:30, uma boa conversa com o Baiano e já começamos a operação. Começaram a chegar o Italiano, o Emerson e quando eu vi já haviam umas três ou quatro pick-ups Toyota dentro ou na frente da oficina e cada um fazia uma coisa ou atendia um freguês. O Junior e o Gama cada um cuidando da sua aí fiz esse filminho perguntando para cada um quantas horas seria a volta pra casa com as duas Toyas?


Só que não! Quando tudo ficou pronto e finalmente começamos a engatar as duas Toyas percebemos que alguma coisa não estava funcionando. No primeiro momento engatamos e tal, testamos as sinaleiras no rabicho do reboque, tudo ok. Aí o Gama saiu e foi comprar uma corrente para passar nos dois carros através do cambão triangular para dar mais segurança e legalidade ao reboque.



Então o Italiano pediu que movêssemos as toyas para tirar da frente do portão da oficina mais para o lado. Foi aí que nós percebemos que as rodas da Excalibur se recusavam a seguir a Bruta, as rodas iam virando e forçando para o lado que ela quisesse. O Baiano falou “era essa a minha dúvida, como isso ia funcionar?” Mandamos o Junior parar e percebemos que o esforço havia entortado o gancho que fizemos no dia anterior.


Balde de água fria! Quando o Gama voltou com a corrente encontrou a galera olhando para o cambão especulando.  Que foi Tio?! Gama, o cambão não está funcionando! Que!?  Hehehe Tás de sacanagem comigo! Não, pode perguntar pro Italiano!... De tanta brincadeira na viagem o Gama custou a acreditar, e eu também, se não tivesse visto a Excalibur parecer um boi brabo não querendo obedecer ao laço e depois o suporte da bola entortando.

Procurei na internet e achei vários vídeos desse mesmo cambão funcionando. A conversa rolava, mas ninguém entendia o que estava acontecendo. Uma verdadeira conferência entre mecânicos e toyoteiros se seguiu especulamos sobre a instalação, sobre a bola ter envergado, etc... será que são os pneus mais largos? Tai uma pergunta que ficou para mim. Acredito que os pneus lagos da Excalibur faziam muito arrasto e superava a força do cambão. Bueno, a verdade é que acabou a confiança na nossa aventura do reboque. (Mais tarde em conversas posteriores com outros mecânicos e toyoteiros aprendemos que o segredo é oi Caster do diferencial dianteiro - Caster é o nome que se dá ao ângulo formado  entre o pino mestre da roda do veículo em relação ao plano vertical, ajudando na estabilidade do mesmo. )



Começou uma nova gincana: fazer uma elétrica básica na Toya do Gama hoje e voltaríamos em comboio amanhã, mais um dia em Machado. Decidido isso o Gama foi com o Italiano em busca de uma elétrica, e eu e o Junior fomos em busca de um café expresso. O café virou uma epopeia, depois de ir numa padaria perto do mercado público e ouvir: Tá frio, mas posso colocar no micro-ondas! Não!! Grato... Caminhamos de volta até a praça onde fica o hotel e no único Shopping da cidade, uma galeria que no segundo andar tem um restaurante onde existe uma maquininha daquelas que torra o grão diretamente num expresso saboroso. Estava tão precisando de um expresso que nem perguntei ao cara do restaurante de onde eram os grãos, mas deviam ser da área foi um bom café.


Ainda teve o radiador da Bruta que resolveu estourar, ainda bem que foi em Machado e não na estrada ou com a Excalibur rebocada... Remendamos, mas o gama resolveu comprar outro, segurança acima de tudo nessas viagens longas.

A segunda noite em Machado

Acabamos voltando ao Colinas Hotel, razoável e barato na praça, comemos na mesma pizzaria e conversando a mesma conversa de sempre Toyotas e viagens! Mais uma noite agradável em Machado. O Junior variou o cardápio, mas vegetarianos, eu e o Gama preferimos repetir a pizza. O hotel onde na noite anterior acordei as 5h com a conversa dos mineiros madrugadores fica numa das esquinas da praça principal de Machado. Ficamos sabendo que na sexta haveria show com Sérgio Reis, 14 BIS e outras atrações.

Ali estava sendo preparada a festa para o outro dia onde montavam um palco e, na noite anterior, os conversadores haviam acabado as 5 horas a pintura do meio-fio da praça e hoje haveriam mais obras... foram muitas marteladas, serra de meia em meia hora e cachorros latindo... Só eu ouvi, acho que trabalhei menos que os dois que devem ter desmaiado pois não ouviram nada.

No outro dia amanhecemos com um bom café no Hotel e fomos para a oficina onde estavam as duas Toyas. Batemos mais alguns papos numa nova conferência Toyoteiros e mecânicos de Toyota resolvendo... Se o eletricista topasse fazer o serviço para o mesmo dia esperaríamos para voltar em comboio com as duas Toyas, mas como não topou. O Gama vai vir buscar a Excalibur sozinho no próximo fim de semana. Então só nos restou pegar a estrada para a Ilha de Santa Catarina de volta. Trouxe só um queijo de Minas... rss

Uma das paradas para um café da volta, como na ida, noite muito frio nesses lugares!
A volta foi como a ida com uma hora a menos, fizemos em 17 horas viajando toda a noite e chegando em Floripa as 7:30 da manhã. O único stress pra variar foi comigo, pois precisava confirmar o horário de um compromisso na Ilha no outro dia, mas ainda em Minas o celular ficou sem bateria!


Acabei comprando um carregador veicular (o Gama perdeu o dele) carreguei o aparelho e no Rodoanel de Sampa consegui contato pra operar. Tudo confirmado, a viagem foi tranquila, noite aberta cafés nas paradas e o Saraiva mais uma vez repetiu seu recorde e não dividiu a boléia até a Ilha. Ainda paramos 15 minutos em Joinville e tiramos uma pestana os três só pra quebrar o ritmo e valeu para a chegada numa manhã espetacular vendo a ilha da BR 101 e a Baía Norte espelhada:


Depois o Gama voltou sozinho de ônibus até Machado, MG e trouxe a sua Excalibur com a elétrica provisória tranquilamente. Ele chegou na Ilha por volta das 2:30 de um domingo.


Parada em Atibaia na volta da Excalibur, que já está sendo tratada aqui na Ilha.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

13.400 km de 125cc na Patagônia

Saindo um pouco da nossa cobertura de viagens de Toyota Bandeirantes:

Em 2015 tentei organizar com um grupo de amigos uma expedição para o altiplano andino na fronteira do Peru com a Bolívia em torno do Lago Titicaca e sua cultura milenar. Era uma tentativa de fazer a expedição com uma equipe mínima de vídeo e transformar a viagem num conteúdo para TV e/ou Internet. Mas a conjuntura não estava boa e apesar de termos conseguido apoio em equipamentos da Mormaii, outros apoiadores deram pra trás acusando a crise o que inviabilizou o projeto... Ficou o roteiro para uma outra hora. 

Tínhamos reunimos quatro toyas para a expedição que não aconteceu, uma delas era de um novato nesse tipo de aventura o Junior Saraiva que iria conduzir a Bruta, como ele chama seu jipe, acompanhado de seu filho Lucas de 13 anos. 


O Junior estava louco para ir numa expedição dessas com seu carro e tinha aquele carinho com a sua Bandeirante 1985 que a nossa turma costuma ter com as suas viaturas. Apesar de não ter rolado a viagem ficamos amigos por conta do assunto Toyotas e nos encontrando eventualmente em torno dos carros.


Um belo dia de 2019 estava no Facebook e vi que o Junior Saraiva estava partindo de moto com objetivo de ir até Ushuaia... E estava indo de moto, uma Suzuki Intruder 125cc ! Como hoje em dia as comunicações são muito mais avançadas desde quando eu e o Gama fizemos a Volta Patagônica em 2006. Comecei a acompanhar as publicações do Saraiva no Facebook e fiz alguns comentários sobre as rotas na Argentina. Só trocamos umas rápidas ideias na semana que estava saindo por whatsApp.




Resolvi postar a viagem dele do meu ponto de vista viajando virtualmente sem sair do Cacupé, Ilha de Santa Catarina. Foi muito incrível, logo eu estava acompanhando o deslocamento do Saraiva no Google Earth e me comunicando com ele diariamente ajudando com informações do que havia pela frente. Viajei com ele e foi muito interessante essa experiência, a partir de Buenos Aires seguimos em contato.
Assim o Junior adormeceu na
cidade de Azul, Argentina.
Mas quando ele andava perto da Península Valdés já estava achando muito frio, estava de moto...  Vi uma publicação em que ele reclamava do frio na Ruta 3 uma vez que ele rodava até cair a noite e aí o ar fica bem gelado ainda mais em março, eu sempre fui em fevereiro e mesmo assim pegamos 6 graus negativo as 10 horas da manhã chegando em Ushuaia em 2006. Com isso ele pensou em ficar só por ali na Península e voltar.

Enquanto eu confirmava as rutas para dar uma alternativa ao Junior, permanecer na mesma latitude devido ao frio e ir até Esquel via Los altares para conhecer a Ruta 40, ele fez outra postagem chegando em Comodoro Rivadávia. Então chamei no whatsApp e perguntei: ué não tinhas desistido de Ushuaia?




Ele achou melhor ir até o fim da Ruta 3 pra ver no que dava, enquanto aguentasse ele prosseguiria, se desse iria até USHUAIA. Estava provando ser da área, um verdadeiro outlander, chegou até ali dormindo ao lado da estrada, tocando 700 km até a noite cair, como devem ser essas travessias e expedições para longe.








Passando pela Província de Chubut, Argentina
Então persistiu na Ruta 3 até a fronteira com o Chile, entrou pegou a balsa para atravessar o Estreito de Magalhães e prosseguiu na terra do fogo até San Sebastian. Esse trecho eu ia antecipando as distâncias para ele em mensagem por what’s up ou Facebook quando ele estava em alguma cidade.









O Saraiva chegou mais longe de 125cc do que as nossas duas bandeirantes em 2006, fomos até Ushuaia, mas ficamos na cidade e subimos o Glaciar Martial e ele foi até o Parque Nacional do Tierra del Fuego onde acaba a Ruta 3 e tem até uma placa. Mas não viu o Canal de Beagle lá de cima como nós vimos em 2006.




O Hotel Fantasma


A Verdinha e a Excalibur esperando a balsa para a Terra do Fogo em 2006.


Na saída dele da Terra do Fogo é que passei uma situação inusitada no Google Earth, a essa altura eu estava empolgado em revisitar aquelas paragens mesmo que só acompanhando a viagem do meu amigo. Nesse clima estava me adiantando para sugerir uma opção de pouso que ficava bem no entroncamento da ruta que sai da balsa do Estreito de Magalhães com a que vem da Argentina e costeia o estreito em direção oeste a Punta Arenas e Puerto Natales.

Mergulhei no Gooogle Earth para achar a Hospedaria El Tehuelche, nome original dos patagãos antigos habitantes do local, na Volta Patagônica que fizemos em 2006 tive um probleminha no turbo na reta da saída da balsa em direção a estrada para Punta Arenas. No fim da reta vi um luminoso HOTEL, era a Hosteria Tehuelche, sobre a qual fiz até um post (aqui) nesse blog.


Consertei a Verdinha aí mesmo pela manhã, remanejei uma abraçadeira redundante para substituir a que caiu do turbo e estava incomodando.

Uma casa bem antiga e muito bem preservada, estilo inglês, provavelmente sede de uma fazenda de ovelhas, só que não. A casa não estava lá no entroncamento na qual a conheci e me hospedei em 2006. Nada nem o jardim. Achei que tinham feito uma nova estrada, percorri voando no Google para um lado e para o outro a Ruta 255 chilena que leva a Punta Arenas bem no cruzamento com a Ruta 257 que vem da balsa e nada!

Sumiu a casa, o jardim, não ficou nem uma marca no terreno, na hora parecia um filme de ficção científica: será que eu e o Gama em 2006 paramos num hotel fantasma?... kkk

Não é claro! Temos fotos, dormimos, acordamos, arrumei a Toya, tomamos café e seguimos viagem.

Quando achei o Saraiva de novo, que não parava sua aventura enquanto eu perdi um Hotel no Google Earth, ele já estava a caminho de Puerto Natales que eu havia recomendado como melhor opção para conhecer Torres del Paine, só contei pra ele a história do hotel fantasma aqui quando ele voltou.




Torres del Paine é uma estrada linda para as Toyas, mas o rípio que começam normais no fim da estrada, perto do lago Grey, ficam do tamanho de pedras de rio. Para moto é muito difícil, alertei o Junior que já tinha visitado o Parque só nos primeiros caminhos e já sentiu o problema.

O rípio é uma características das estradas patagônicas que só que já circulou por lá é que sabe bem como é. O território patagônico é, segundo Francisco Pascasio Moreno, conhecido como Perito Moreno: "o maior depósito de seixos rolados do mundo". E é verdade, facilmente constatável andando-se por lá de jipe, imagina de moto.


O Saraiva chegou no local um pouco depois de acontecer.

As estradas são todas feitas com esse material socado. Só que quando não tem asfalto ou calçamento é só no rípio que forma dois ou três trilhos onde a gente roda, mas se sair do trilho é só pedra lisa solta. É como sair da pista no gelo, não para mais... 
Muita gente já se acidentou por lá devido a esta peculiaridade das rutas patagônicas com casos até fatais.

O Junior já tinha tido seu batismo de rípio lá na Península Valdés, mas mesmo assim alertei que a Ruta 40 em 2006 era toda de rípio, conhecida como La ruta de la muerte da fronteira próxima a Puerto Natales até uma cidade chamada Perito Moreno uns 800km ao norte era tudo rípio.



Mesmo assim ele foi indo e pedindo informações atualizadas sobre a estrada a sua frente. Olhando no Google já avisei que em alguns trechos era possível ver asfalto, mas não havia street view em tudo para confirmar.
Como a região é bem mais erma sem cidades só nos falamos quando ele já estava em El Calafate e confirmou que a Ruta 40 que passamos eu e o Gama é coisa do passado já estava tudo asfaltado exceto uns pequenos trechos.










O relato do Junior Saraiva sobre o Glaciar Perito Moreno me fez lembrar da minha impressão sobre estar diante dele pela primeira vez. Deve ser um dos glaciares mais fotografados do mundo e muito antes de eu chegar diante dele já havia visto muitas fotos, mas na frente daquela parede de gelo estalando é que a gente vê que este soa como uma trovoada ao longe, vai estalando, quebrando rachando e fazendo os ruídos desses movimentos. Aquele vento vindo muito frio vindo do glaciar continua o caminho daquele rio de gelo até vir congelar quem na sua frente não estiver prevenido com as roupas certas.

Dali pra cima o Saraiva tinha muito chão de Ruta 40 até encontrar algum destino turístico, mas como ele foi me confirmando de Tres Lagos até Bajo Caracoles já estava tudo com asfalto.
Na nossa viagem em 2006 este trecho demorou bastante e em Bajo Caracoles entramos para o oeste pela Ruta 41 até a fronteira do Chile. Então ele andou mais rápido que nós e logo estava na região de Esquel, El Bolsón e Bariloche onde fez uma parada para descansar o esqueleto e fazer um turismo no Lago Nahuel Huappi que é muito lindo mesmo.








Encontro de Suzukis viajeras...



Então algo, que também me moveu a atravessar a Argentina e o Chile pela primeira vez em 1991, entrou na cabeça do Junior: estou perto do Oceano Pacífico ali do outro lado da Cordilheira, vou até lá! Assim com este espírito aventureiro e planejando apenas o dia seguinte ele atravessou mais uma vez a fronteira chilena para conhecer o Pacífico pela primeira vez.





Que galinha bicuda é essa?  - Aí se chama bandurilla, mas é igual a nossa Curucaca.
Atravessou a Cordilheira na altura de Bariloche com o objetivo de ir até a costa chilena e pernoitou na cidade de Osorno, mas os destinos conhecidos e famosos estavam fora do alcance da logística de um dia então sugeri que ele procurasse qualquer cidade costeira pequena, uma caleta de pescadores que ele encontraria comida e algum lugar para ficar.


E foi o que ele fez foi ao ponto mais próximo do passo que ele atravessou os Andes apenas 30 km da Ruta 5, a artéria principal do país, sobre o Pacífico ele me mandou pelo whatsApp:   “cheguei aqui é uma emoção...  se tem que ver , aquilo que você falou é tipo uma colônia de pescador assim, uma cidade acolhedorazinha, simplicidade e eu me distanciei da Ruta 5 uns 29 km cara.. mais ou menos 29, 30 km em me distanciei...  na cara do gol aqui, eu vou ver se durmo aqui, arrumar um canto botar meu slipping aqui...” e pernoitou numa varanda em Mehuin na costa chilena na altura do Vulcão Villarica e Pucón.




Em 1991, a minha primeira vez diante do Pacífico, gastei nove slides do pôr do sol na água, o Junior fez com seu celular.




Falei de Pucón e o Saraiva já tinha informação de um camping específico para motociclista lá na beira do Lago Villarica, mas ele tinha ideia vaga de subir talvez até Santiago para cruzar no Passo Los Libertadores. O que não aconteceu por medo do desempenho do motor de carburação simples da Suzuki. O Junior ficou com medo da altitude de 3000msnm.




Acabou dormindo em Pucón e localizei as duas alternativas para ele cruzar de volta para Argentina perto dali, Paso Icalma 1300msnm ou Paso Pino Hachado a 1850 msnm. Pensei em caminhos asfaltados das boas estradas chilenas para facilitar, mas ele chegou até o Icalma por um


caminho mais direto apesar de uns quilômetros de rípio. Foi tranquilo.



Depois de cruzar a cordilheira pela última vez a volta foi assim tranquila, pelo que acompanhei, com algumas erradas e acertos de caminhos, tombos -depois ele contou – cidades perigosas a noite, mas foi tranquilo com direito a parada pra curtir em Buenos Aires e trazendo o Pneu original pra casa saiu da ilha, foi a Ushuaia e voltou careca.. segundo o Junior Saraiva, corretamente orgulhoso do feito: “esse vai pra parede!”
Merece mesmo um troféu essa aventura e o Junior está definitivamente infectado com o vírus do outlander e apaixonado pela região patagônica e os Andes e a postagem ficou longa, mas é como deve ser para tentar contar um passeio de 13.400km!


Programa da TV Metropolitana sobre a viagem.