Depois da Viagem de 13.400 km de Suzuki intruder 125cc feita agora em 2019 pelo nosso amigo Junior Saraiva nos reunimos eu, o Gama, o Junior e o Lucas na minha casa no Cacupé para apreciarmos juntos no mapa já bastante riscado da ACA (Automóvil Club Argentino) os relatos de mais um marinheiro de primeira viagem.
Eu e o Renato Gama fizemos em 2006 a volta patagônica onde
rodamos 15,500 km em torno da região, temos outras viagens longas estilo
outlander no currículo cada um. Mas o Junior Saraiva nunca tinha saído do país
rodando nem de Jipe nem de moto, nem em grupo nem sozinho. Foi corajoso e se
jogou pela BR 101 e depois por la Ruta 3 abajo até Ushuaia a cidade mais
austral do mundo. (aqui)
Depois de ouvirmos os relatos do Junior sobre as lonjuras
patagônicas e constatarmos nossa empatia por termos tido as mesmas impressões
da região austral, da Ruta 3 e a famosa Ruta 40. Falando de trechos longos e do
comportamento da moto e das Toyas acabou surgindo a ideia de irmos com a Toyota
Bandeirante do Junior – a Bruta- salvar a – Excalibur – Band do Renato Gama.
O Renato está acabando uma grande reforma geral da Excalibur
que ficou zerinho na nova versão híbrida metade fibra metade lata ainda. Só que
a reforma foi feita em Machado, MG. Cidade do sul de Minas a 1000 km da Ilha
de Santa Catarina onde moramos. Ele viaja para a região para estudos faz
muitos anos e percebeu que onde se planta café existem muitas Toyotas Bandeirante,
principalmente pick-ups usadas no campo e na colheita do café.
A capacidade de
trabalho e robustez das velhas Toyotas ainda não foi suplantada pelos novos
veículos lançados depois. Como existe demanda as oficinas de lá se acostumaram
a trabalhar com esses carros.
Nessas viagens a Machado o Gama conheceu o Italiano, um mecânico
com uma oficina especializada na linha bandeirante e o seu filho que toca uma
loja de peças Toyota em cima dessa oficina em Minas Gerais. Daí saiu uma
grande amizade e vários serviços feitos na Excalibur até que ele resolveu reformar
definitivamente o carro chegando a trocar o principal, o caixote do chão do
jipe inteiro.
A viagem
Tudo combinado saímos da Ilha de Santa Catarina no
dia 03 de Junho de 2019 as 19:30 para cumprir 1000 km com o Renato Gama, que já
fez uma centena de vezes esse trecho, como “GPS humano” rss O Junior pilotando e colocando um som atrás
do outro até que percebeu e ficou só no roquenroll: Beatles, engenheiros, Titãs,
depois escolhi um Alceu, ele colocou Almir Sater e fomos indo.
Viagem longa noturna, a ideia era cada um dirigir um trecho
pra ficar mais leve, mas o Junior sentou na boleia da Bruta e foi tocando.
Eu tinha muito medo de pegarmos nevoeiro na subida de Curitiba
e no Vale do Ribeira, uma vez indo pra Sampa de Besta peguei um
que não se via nada, mas foi tranquilo, noite limpa, movimento normal de carros
e poucos caminhões e a gente conversando sobre as marchas, o turbo, intercooler
essas coisas que só toyoteiro conversa.
A Bruta é uma 1985 quatro marchas, turbinada muito bem
conservada pelo Junior. Ela perdia o embalo devido ao cambio de 4 marchas e
quando reduz pra terceira numa serra é uma diferença muito grande de marcha e
vai muito lenta. Discutíamos as marchas a cada curva, mas tudo com muita brincadeira
e pegação de pé. Eu achei, mesmo sem ter dirigido no final, que com 4 marchas
por ser turbinada a Bruta ia render mais nas subidas, lá em minas avaliamos os
gastos e a Bruta fez quase 10km/litro o que é muito bom para viagens longas. O
ritmo era ditado pelo GPS humano 80km/h, radar 60km/h, 40 km/H, rss.
Lá eu vi também que o escapamento dela ainda é muito fino
para a turbina, talvez o original, o que pode estrangular um pouco o desempenho
em subida. Na Verdinha eu refiz dimensionado para o fluxo do turbo e ficou
muito bom, apesar da minha caixa ser de 5, logo percebi a diferença na troca do escape.
A rota que o Gama faz pra ir até o sul de Minas é
muito interessante corta caminho no contra-fluxo do movimento do Rush devido ao
horário. Fomos em direção a Sampa, pegamos o Rodoanel e saímos do Rodoanel
em Mairiporã, continuamos por bairros de cidades da grande São Paulo até
achar a Fernão Dias e seguir pra Machado. Já próximo a cidade e por
dentro de Minas ele pegou uns trevos por ali, mas confesso que não gravei
estava de carona numa posição insólita para quem pilota Toyotas há 30 anos na
boléia em trechos longos, dificilmente ando sentado no banco de trás numa Toyota
hehe.
Mas o Saraiva não quis entregar a boléia da Bruta pra
ninguém, ciumento!!.. o Gama perguntava de meia em meia hora: Tudo bem aí Tio!?
E ele: Tudo!! E as vezes, geralmente junto das paradas para abastecer ou quando
necessário: Um cafezinho!! Foi assim por 1000 km 18 horas da Ilha até Machado,
MG. Acho que depois de conversarmos tanto sobre o quanto cada um de nós já
tinha dirigido nas viagens patagônicas, 1100, 1200, 1500km no mesmo dia o Junior
se empolgou em bater o seu primeiro recorde com a Bruta. E bateu 1000km! Mas
pra quem fez o que ele fez recentemente de Suzuki 125cc, nem precisava...
A Cidade
A 1000 quilômetros de distância da nossa ilha, Machado MG, tem 50 mil
habitantes, mas nem parece é uma cidade rural, a 845 msnm está a praça principal
onde paradoxalmente não encontrei uma igreja antiga como é comum em MG. Mas encontramos muitas
Toyotinhas pick ups pra lá e pra cá, uns fuscas também e até Rural e F75.
Wikipédia: " Há várias versões sobre o nome "Machado", a mais conhecida relata a história de um lenhador, que trabalhava ao lado de um rio e derrubou seu machado nele. A partir daí o rio ficou conhecido como Rio Machado, que logo depois deu nome a cidade. Outra versão diz que a primeira família, de sobrenome Machado, fundou um pequeno vilarejo naquela região".
A cidade já se chamou Santo Antônio do Machado, mas acabou ficando com o nome do rio batizado pelos Machado, antigos proprietários da sesmaria onde fica hoje a cidade.
Almoçamos na chegada da cidade que é rodeada de cafezais ao lado da estrada, café pra todo lado, mas paradoxalmente não encontrei e tomei um bom café expresso no primeiro dia lá.
A cidade já se chamou Santo Antônio do Machado, mas acabou ficando com o nome do rio batizado pelos Machado, antigos proprietários da sesmaria onde fica hoje a cidade.
Almoçamos na chegada da cidade que é rodeada de cafezais ao lado da estrada, café pra todo lado, mas paradoxalmente não encontrei e tomei um bom café expresso no primeiro dia lá.
A Oficina
Chegamos na Oficina, plaquinha de acrílico da Toyota serviços, pátio cimentado e todos os carros Toyota, quer dizer havia uma F75 da
Ford linda, estavam acabando de pintar os detalhes em verde do exército (era
azul), mas não vi a Excalibur... Conhecemos logo o Baiano, funcionário padrão,
o Emerson, dono da loja de peças Toyota no segundo piso e o Italiano como é conhecido o dono da
oficina.
O Emerson na lida com um Teto de Pickup |
Começaram a ver alguns probleminhas na Bruta enquanto o
italiano foi buscar a Excalibur num outro local. Durante a viagem da vinda o Gama
percebeu uma vibração e viemos conversando o que seria, caixa, diferencial, cardã?
O Gama apostava que era o cardã que estava frouxo e batata! Foi só o Baiano
apertar as cruzetas da Bruta e o cardã voltou girando em silêncio.
De repente, nós ali na frente da oficina, chega a Excalibur trazida pelo Italiano, linda com seu novo tom de azul e montadinha, inteirinha.
De repente, nós ali na frente da oficina, chega a Excalibur trazida pelo Italiano, linda com seu novo tom de azul e montadinha, inteirinha.
Achei que ela estaria mais inacabada para levarmos ela rebocando, assim como
estava vendo parecia pronta pra descer para a Ilha. Mas não, o Gama teria que
refazer toda a elétrica aqui na ilha com planejamento de especialista
dimensionando até os fios e nova caixa de fusíveis acessível, coisa de quem já
viajou muito e sabe do que precisa na hora h.
A Gincana
A Excalibur conta com um acessório que é o famoso cambão
triangular para ser rebocada sozinha. (já vi muitos carros sendo puxados assim)
Aliás na Volta Patagônica em 2006 as duas toyas estavam com ferragens de espera
no para-choque para poderem trocar o cambão e rebocar uma a outra se fosse
necessário naquelas lonjuras, o que graça a deus não foi.
Passamos o primeiro dia montando um gancho (bola) de reboque
na Bruta para poder rebocar a outra, enquanto isso o Gama arrumava as sinaleiras
traseiras da Excalibur para funcionarem sincronizadas com as da Bruta que a
rebocaria de volta. Como eu estava só ajudando fui procurar
e achei um hotel razoável e barato para literalmente nos "apagarmos" nessa noite. Depois de passar 18 horas rodando e sem dormir passarmos o dia todo entre
tornos soldas e operações mecânicas. Comemos uma pizza ao lado do hotel e cama,
as 5 da manhã uns mineiros pararam para conversar bem embaixo do hotel, acordei
as 5! Mas satisfeito com as viaturas prontas, hoje seria só terminar a elétrica das sinaleiras traseiras da Excalibur
testar e engata-las para ir embora, pensei.
Amanhecer na praça de Machado vista do Colinas Hotel. |
Depois do bom café da manhã no hotel, inclusive o próprio café,
hehe, voltamos para a oficina que estava abrindo as 7:30, uma boa conversa com
o Baiano e já começamos a operação. Começaram a chegar o Italiano, o Emerson e
quando eu vi já haviam umas três ou quatro pick-ups Toyota dentro ou na frente
da oficina e cada um fazia uma coisa ou atendia um freguês. O Junior e o Gama
cada um cuidando da sua aí fiz esse filminho perguntando para cada um quantas
horas seria a volta pra casa com as duas Toyas?
Só que não! Quando tudo ficou pronto e finalmente começamos
a engatar as duas Toyas percebemos que alguma coisa não estava funcionando. No
primeiro momento engatamos e tal, testamos as sinaleiras no rabicho do reboque,
tudo ok. Aí o Gama saiu e foi comprar uma corrente para passar nos dois carros através
do cambão triangular para dar mais segurança e legalidade ao reboque.
Então o Italiano pediu que movêssemos as toyas para tirar da
frente do portão da oficina mais para o lado. Foi aí que nós percebemos que as
rodas da Excalibur se recusavam a seguir a Bruta, as rodas iam virando e
forçando para o lado que ela quisesse. O Baiano falou “era essa a minha dúvida,
como isso ia funcionar?” Mandamos o Junior parar e percebemos que o esforço
havia entortado o gancho que fizemos no dia anterior.
Balde de água fria! Quando o Gama voltou com a corrente
encontrou a galera olhando para o cambão especulando. Que foi Tio?! Gama, o cambão não está
funcionando! Que!? Hehehe Tás de sacanagem
comigo! Não, pode perguntar pro Italiano!... De tanta brincadeira na viagem o Gama custou a acreditar, e eu
também, se não tivesse visto a Excalibur parecer um boi brabo não querendo
obedecer ao laço e depois o suporte da bola entortando.
Procurei na internet e achei vários vídeos desse mesmo
cambão funcionando. A conversa rolava, mas ninguém entendia o que estava
acontecendo. Uma verdadeira conferência entre mecânicos e toyoteiros se seguiu
especulamos sobre a instalação, sobre a bola ter envergado, etc... será que são
os pneus mais largos? Tai uma pergunta que ficou para mim. Acredito que os
pneus lagos da Excalibur faziam muito arrasto e superava a força do cambão. Bueno, a verdade é que acabou a confiança na nossa aventura
do reboque. (Mais tarde em conversas posteriores com outros mecânicos e toyoteiros aprendemos que o segredo é oi Caster do diferencial dianteiro - Caster é o nome que se dá ao ângulo formado entre o pino mestre da roda do veículo em relação ao plano vertical, ajudando na estabilidade do mesmo. )
Começou uma nova gincana: fazer uma elétrica básica na Toya do Gama
hoje e voltaríamos em comboio amanhã, mais um dia em Machado. Decidido isso o
Gama foi com o Italiano em busca de uma elétrica, e eu e o Junior fomos em
busca de um café expresso. O café virou uma epopeia, depois de ir numa padaria perto do
mercado público e ouvir: Tá frio, mas posso colocar no micro-ondas! Não!! Grato... Caminhamos de volta até a
praça onde fica o hotel e no único Shopping da cidade, uma galeria que no
segundo andar tem um restaurante onde existe uma maquininha daquelas que torra
o grão diretamente num expresso saboroso. Estava tão precisando de um expresso
que nem perguntei ao cara do restaurante de onde eram os grãos, mas deviam ser
da área foi um bom café.
Ainda teve o radiador da Bruta que resolveu estourar, ainda
bem que foi em Machado e não na estrada ou com a Excalibur rebocada...
Remendamos, mas o gama resolveu comprar outro, segurança acima de tudo nessas
viagens longas.
A segunda noite em Machado
Acabamos voltando ao Colinas Hotel, razoável e barato na
praça, comemos na mesma pizzaria e conversando a mesma conversa de sempre Toyotas
e viagens! Mais uma noite agradável em Machado. O Junior variou o cardápio, mas vegetarianos, eu e o Gama preferimos repetir a pizza. O hotel onde na noite
anterior acordei as 5h com a conversa dos mineiros madrugadores fica numa das
esquinas da praça principal de Machado. Ficamos sabendo que na sexta haveria
show com Sérgio Reis, 14 BIS e outras atrações.
Ali estava sendo preparada a festa para o outro dia onde
montavam um palco e, na noite anterior, os conversadores haviam acabado as 5
horas a pintura do meio-fio da praça e hoje haveriam mais obras... foram muitas
marteladas, serra de meia em meia hora e cachorros latindo... Só eu ouvi, acho
que trabalhei menos que os dois que devem ter desmaiado pois não ouviram nada.
No outro dia amanhecemos com um bom café no Hotel e fomos
para a oficina onde estavam as duas Toyas. Batemos mais alguns papos numa nova
conferência Toyoteiros e mecânicos de Toyota resolvendo... Se o eletricista topasse
fazer o serviço para o mesmo dia esperaríamos para voltar em comboio com as
duas Toyas, mas como não topou. O Gama vai vir buscar a Excalibur sozinho no
próximo fim de semana. Então só nos restou pegar a estrada para a Ilha de
Santa Catarina de volta. Trouxe só um queijo de Minas... rss
Uma das paradas para um café da volta, como na ida, noite muito frio nesses lugares! |
A volta foi como a ida com uma hora a menos, fizemos em 17
horas viajando toda a noite e chegando em Floripa as 7:30 da manhã. O único
stress pra variar foi comigo, pois precisava confirmar o horário de um
compromisso na Ilha no outro dia, mas ainda em Minas o celular ficou sem
bateria!
Acabei comprando um carregador veicular (o Gama perdeu o dele) carreguei
o aparelho e no Rodoanel de Sampa consegui contato pra operar. Tudo
confirmado, a viagem foi tranquila, noite aberta cafés nas paradas e o Saraiva
mais uma vez repetiu seu recorde e não dividiu a boléia até a Ilha. Ainda paramos 15 minutos em Joinville e tiramos uma pestana os três só pra quebrar o ritmo e valeu para a chegada numa manhã espetacular vendo a ilha da BR 101 e a Baía Norte espelhada:
Depois o Gama voltou sozinho de ônibus até Machado, MG
e trouxe a sua Excalibur com a elétrica provisória tranquilamente. Ele chegou na Ilha por volta das 2:30 de um domingo.
Parada em Atibaia na volta da Excalibur, que já está sendo tratada aqui na Ilha. |