segunda-feira, 30 de abril de 2012

DESCOBERTAS QUE NÃO ESTAVAM NO MAPA



Já contei esta história, mas como achei um arquivo de imagens com algumas inéditas da aventura resolvi recontá-la, acredito que alguns que acompanham este blog não conhecem.

Alguns dos lugares mais incríveis do mundo podem passar despercebidos sem querer é claro. Em geral quem viaja e ainda por cima de carro busca mesmo são lugares assim especiais.
Em 2006 foi o ano da Volta Patagônica empreendida por mim e o fotografo/aventureiro e grande amigo e companheiro de viagem Renato Gama. Fizemos 15000 km contornando toda Patagônia Chilena e Argentina cada um no seu jipe Toyota Bandeirante, esta aventura completa esta aqui.

Depois de termos ido ate a Terra do Fogo, visitado o glaciar Martial em Ushuaia, ido ate o fim do maravilhoso Parque nacional Torres Del Paine,

enfrentado a Ruta 40 cruzando o deserto, visto o Glaciar Perito Moreno e ido a Tortel quase no final da Carretera Austral chilena.


Voltávamos de Tortel por esta estrada singular, a Carretera Austral Chilena, com seu piso de rípio (pedras redondas e soltas) e serpenteando entre montanhas que a algumas eras atrás estavam cobertas de gelo.



A CARRETERA AUSTRAL
Os vales por onde a Carretera serpenteava ficam entre os dois grandes campos de gelo da patagônia, um deles o terceiro do planeta, provavelmente estes dois campos de gelo já foram unidos sobre os vales o movimento do gelo ficou gravado nas rochas.
Passamos de novo por Cochrane e tomamos rumo norte pela carretera o plano era sair do Chile na altura do Parque Futalefu para deixar uma caroneira em Trevelin na Argentina. Em Cochrane eu e o Gama descobrimos que o meu jipe estava sem os 4 parafusos da caixa o que providenciamos fazendo o serviço numa esquina da cidade nós mesmos.


Além de os buracos da estrada soltarem alguns parafusos dos jipes, o problema é que as estradas são muito cheias de curvas e subidas e descidas estreitas e escorregadias o que não permite uma velocidade de cruzeiro muito alta frustrando nosso planejamento, pois levávamos mais tempo para cumprir cada quilometragem desejada.


Como já estávamos viajando há bastante tempo tínhamos aprendido que viajar até tarde correndo o risco de chegar aos lugarejos, campings ou pousadas muito tarde da noite não era uma boa coisa. Nesta condição novamente contornávamos o Lago General Carreras (que no lado argentino chama Lago Buenos Aires) numa paisagem fantástica quando a luz começou a baixar com o final da tarde entre as altas montanhas. De repente apareceu uma placa de um camping ao lado da estrada e depois de trocarmos uma idéia pelo rádio resolvemos pernoitar ali mesmo. A entrada descia para a margem do lago e era um declive bem pronunciado chegamos num camping rústico onde o único banheiro era uma indescritível fossa negra numa casinha de madeira sem luz e sem água.


Mesmo assim havia um casal com um landcruiser alemão e outro alemão com um carro alugado.
Como era tarde para voltar atrás e não queríamos retornar aquela subida íngreme sem luz acabamos ficando. Ao perguntar para a administradora do camping quanto custaria o pernoite de dois carros e duas barracas, ela me disse que era de graça.
Eu perguntei: como assim de graça, e ela sorrindo me perguntou se nós não iríamos fazer o passeio?



AS CATEDRAIS DE MÁRMORE
Então a senhora do camping apontou para uns panfletos grampeados na parede de madeira da casa da administração e falou: Las Catedrales de Marmol!
Como a Heather, que estava de carona conosco estava resfriada e queria se entocar na sua barraca até o outro dia combinamos o passeio com o barco para que eu e o Gama fotografássemos este surpreendente monumento geológico na primeira luz da manhã seguinte.



No outro dia, não tão cedo assim, um barqueiro com uma voadeira de alumínio e motor de popa nos esperava na margem do lago. Navegamos e mais uma vez constatamos como a água do lago era potabilíssima e ainda por cima gelada, pena o motor movido a gasolina naquelas águas...
Enfim chegamos até as catedrais e ficamos estupefatos e clicando sem parar.

As formas eram barrocas e ao mesmo tempo pareciam obras abstratas modernas, um show.


O nosso guia/barqueiro explicou o processo geológico que havia formado aqueles túneis nos imensos blocos de mármore. Em eras geológicas passadas vulcões haviam enchido aquele lago de ácido que corroeu as pedras de mármore onde eram mais frágeis deixando aqueles buracos nos blocos sempre no mesmo nível – o nível do lago.


As paredes dos túneis tem aparência de acabamento martelado como o gelo às vezes fica por causa da água. Isto é por que a superfície do lago da ácido do passado fazia o mesmo que a água faz ainda hoje esculpindo o gelo.



























Algumas formas são quase esculturas de Michelangelo.



Outras lembravam esculturas modernistas.


O penhasco da margem do lago tem mais de dez andares de altura e os imensos blocos caídos aqui em baixo no lago.






A descoberta das catedrais deu um novo ânimo no final da viagem, que completando mais de trinta dias, já estava na fase estressante. Mas ainda passamos por Puyhuapi onde almoçamos uma merluza austral e ficamos numa casa em La junta cuja dona me perguntou, vocês não querem conhecer uma gruta em baixo de um glaciar??
Era mais uma dessas oportunidades de viagem das quais não se deve fugir, afinal é o melhor da viagem. No caso de La Junta, infelizmente, não fomos a tal gruta, outra regra de viagem é tomar as decisões em conjunto e nessa fui voto vencido e fomos embora para a Argentina.


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