Já contei esta história, mas como achei um arquivo de
imagens com algumas inéditas da aventura resolvi recontá-la, acredito que
alguns que acompanham este blog não conhecem.
Alguns dos lugares mais incríveis do mundo podem passar
despercebidos sem querer é claro. Em geral quem viaja e ainda por cima de carro
busca mesmo são lugares assim especiais.
Em 2006 foi o ano da Volta Patagônica empreendida por mim e
o fotografo/aventureiro e grande amigo e companheiro de viagem Renato Gama. Fizemos
15000 km contornando toda Patagônia Chilena e Argentina cada um no seu jipe
Toyota Bandeirante, esta aventura completa esta aqui.
Depois de termos ido ate a Terra do Fogo, visitado o glaciar
Martial em Ushuaia, ido ate o fim do maravilhoso Parque nacional Torres Del
Paine,
enfrentado a Ruta 40 cruzando o deserto, visto o Glaciar Perito Moreno e ido a Tortel quase no final da Carretera Austral chilena.
enfrentado a Ruta 40 cruzando o deserto, visto o Glaciar Perito Moreno e ido a Tortel quase no final da Carretera Austral chilena.
Voltávamos de Tortel por
esta estrada singular, a Carretera Austral Chilena, com seu piso de rípio
(pedras redondas e soltas) e serpenteando entre montanhas que a algumas eras atrás
estavam cobertas de gelo.
A CARRETERA AUSTRAL
Os vales por onde a Carretera serpenteava ficam entre os
dois grandes campos de gelo da patagônia, um deles o terceiro do planeta,
provavelmente estes dois campos de gelo já foram unidos sobre os vales o
movimento do gelo ficou gravado nas rochas.
Passamos de novo por Cochrane e tomamos rumo norte pela
carretera o plano era sair do Chile na altura do Parque Futalefu para deixar
uma caroneira em Trevelin na Argentina. Em Cochrane eu e o Gama descobrimos que
o meu jipe estava sem os 4 parafusos da caixa o que providenciamos fazendo o
serviço numa esquina da cidade nós mesmos.
Além de os buracos da estrada soltarem alguns parafusos dos
jipes, o problema é que as estradas são muito cheias de curvas e subidas e
descidas estreitas e escorregadias o que não permite uma velocidade de cruzeiro
muito alta frustrando nosso planejamento, pois levávamos mais tempo para
cumprir cada quilometragem desejada.
Como já estávamos viajando há bastante tempo tínhamos
aprendido que viajar até tarde correndo o risco de chegar aos lugarejos,
campings ou pousadas muito tarde da noite não era uma boa coisa. Nesta condição
novamente contornávamos o Lago General Carreras (que no lado argentino chama
Lago Buenos Aires) numa paisagem fantástica quando a luz começou a baixar com o
final da tarde entre as altas montanhas. De repente apareceu uma placa de um
camping ao lado da estrada e depois de trocarmos uma idéia pelo rádio
resolvemos pernoitar ali mesmo. A entrada descia para a margem do lago e era um
declive bem pronunciado chegamos num camping rústico onde o único banheiro era
uma indescritível fossa negra numa casinha de madeira sem luz e sem água.
Mesmo assim havia um casal com um landcruiser alemão e outro alemão com um carro alugado.
Como era tarde para voltar atrás e não queríamos retornar
aquela subida íngreme sem luz acabamos ficando. Ao perguntar para a
administradora do camping quanto custaria o pernoite de dois carros e duas
barracas, ela me disse que era de graça.
Eu perguntei: como assim de graça, e ela sorrindo me
perguntou se nós não iríamos fazer o passeio?
Então a senhora do camping apontou para uns panfletos
grampeados na parede de madeira da casa da administração e falou: Las
Catedrales de Marmol!
Como a Heather, que estava de carona conosco estava resfriada e queria se entocar na sua barraca até o outro dia combinamos o passeio com o barco para que eu e o Gama fotografássemos este surpreendente monumento geológico na primeira luz da manhã seguinte.
Como a Heather, que estava de carona conosco estava resfriada e queria se entocar na sua barraca até o outro dia combinamos o passeio com o barco para que eu e o Gama fotografássemos este surpreendente monumento geológico na primeira luz da manhã seguinte.
No outro dia, não tão cedo assim, um barqueiro com uma
voadeira de alumínio e motor de popa nos esperava na margem do lago. Navegamos
e mais uma vez constatamos como a água do lago era potabilíssima e ainda por
cima gelada, pena o motor movido a gasolina naquelas águas...
Enfim chegamos até as catedrais e ficamos estupefatos e
clicando sem parar.
As formas eram barrocas e ao mesmo tempo pareciam obras
abstratas modernas, um show.
O nosso guia/barqueiro explicou o processo geológico que
havia formado aqueles túneis nos imensos blocos de mármore. Em eras geológicas
passadas vulcões haviam enchido aquele lago de ácido que corroeu as pedras de
mármore onde eram mais frágeis deixando aqueles buracos nos blocos sempre no
mesmo nível – o nível do lago.
As paredes dos túneis tem aparência de acabamento martelado
como o gelo às vezes fica por causa da água. Isto é por que a superfície do
lago da ácido do passado fazia o mesmo que a água faz ainda hoje esculpindo o
gelo.
Algumas formas são quase esculturas de Michelangelo.
Outras lembravam esculturas modernistas.
O penhasco da margem do lago tem mais de dez andares de
altura e os imensos blocos caídos aqui em baixo no lago.
A descoberta das catedrais deu um novo ânimo no final da
viagem, que completando mais de trinta dias, já estava na fase estressante. Mas
ainda passamos por Puyhuapi onde almoçamos uma merluza austral e ficamos numa casa em La junta cuja dona me perguntou, vocês não querem conhecer uma gruta em
baixo de um glaciar??