Confesso que estou com saudades de sair por aí de Toya - a
verdinha com alguns pequenos problemas está guardada na garagem faz oito meses,
mas prestes a voltar a rodar...
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Lembranças de viagem. |
Eu nos últimos anos tive projetos de viagens outlander
frustrados, por outros compromissos com projetos realizados e/ou dedicação de
tempo para projetos futuros que garantam o dia-a-dia e me impediram de rodar
por aí como desejo e gosto: patagônia, terra-do-fogo, andes, Atacama, altiplano
e todos os “pasos”, “quebradas”, lagos e vulcões dessa cordilheira imensa que
vai até o fim da américa austral.
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Parque Nacional Aconcágua 1991. |
O que me move na direção de horas em estradas retas e vazias ou do frio
de acampamentos na beira de lagos das montanhas, passar horas dirigindo comendo
castanhas, água e só parando para algumas fotos de um guanaco solitário ou um
cactus e seguir viagem até o fim do dia, aí procurar local de acampamento ou
pouso e jantar e dormir como uma pedra, satisfeito, mesmo que num saco de
dormir no chão?..
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Meu quarto em plena Estepe Patagônica, Ters lagos 2006 |
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Puerto Yungay, Chile, se pegar essa balsa pode-se rodar mais 100 km na
Carreteira Austral até Villa O'Higgins ponto final sul para os carros de qualquer tipo.
Projeto para qualquer dia desses, afinal em 2006 só cheguei até aí e voltei rss...
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Wanderlust é uma palavra alemã que volta e meia utilizo
para descrever este meu desejo: ”O sentimento representado por wanderlust é de
querer viajar pelo mundo mais do que qualquer outra coisa. É de não sentir-se
confortável quando se está estável em um local. É um interesse genuíno por
conhecer novas culturas e explorar ambientes ainda não conhecidos. ”... (Internet)
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Esse é o meu porto, Cacupé, Ilha de Santa Catarina. Daqui saí diversas vezes para viajar e/
aqui também sonho planejando outras aventuras... |
Deve ser isso ou também cabe no
conceito de “outlander” - o mundo passando sob as rodas -, mas também pode ser
algo particular. Eu que sou nascido numa ilha tenho como paisagem naturalmente
introjetada de horizontes sublinhados por corpos de água, lagoas e baías, ou encostas
de montanhas na beira do oceano e seu horizonte longínquo – quase sempre a há
uma linha clara definindo o horizonte. Nos Andes, as grandes montanhas
subvertem isso, fora seus lindos lagos de geleiras, a paisagem quase sempre
caótica da erosão montanhosa esconde horizontes que parece engolir pelo tamanho
imponente de suas rochas e picos nevados de mais de 6 mil metros acima do nível
do mar.
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Aconcágua, ponto mais alto da América que visitei em 1991, e nesta foto em 2008 |
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Rochas "folheadas" dos vales entre o campos de Hielo do sul do nosso continente. 2006 |
A primeira vez que vi os picos dos Andes no Parque Nacional
Aconcágua em 1991 fiquei apaixonado pela amplitude da paisagem magnífica da
região. E descobri que isso está a 3 dias de viagem da minha ilha natal - Ilha
de Santa Catarina - isso se o motorista
gostar de tocar direto por retas intermináveis como as da Ruta 7 e outras do
pampa e da estepe Argentinos. Para mim, se for de Toyota 1977 melhor ainda...
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Voltando da primeira viajem ao outro lado da cordilheira em 1992 - Parque Nacional Aconcágua AR |
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Cruzando o pampa 1991 |
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Subindo a cordilheira Uspallata 1991 |
Nessa primeira vez que fomos atravessar até o Pacífico só tinha um mapa de
uns amigos do Iate Clube de Santa Catarina que tinham ido até lá rebocando um
veleiro até uma prova no Chile, mas eles tinham ido em 1972 e eu estava indo em
1991. Sobre os andes e o pampa imenso e plano do interior da Argentina, além do
mapa, eu só tinha lido um livro do Júlio Verne “Os filhos do Capitão Grant” que
romantizava a travessia descrevendo a natureza da cordilheira e do pampa
argentino, mas Júlio Verne nunca tinha ido até lá.
Eu imaginava que, como tínhamos um pampa plano que se aproximaria de uma
cordilheira de 7 mil metros naquele ponto, iríamos ver as montanhas subindo
paulatinamente no horizonte, como não havia GPS a bordo naquela primeira viagem
não percebi que indo para Mendoza pela Ruta 7 de Leste para Oeste vamos subindo
devagar e Mendoza já está a 800 metros sobre o nível do mar. Por tudo isso e
mais as nuvens chegamos a Mendoza sem ver os picos nevados dos arredores. Depois
ao subir para o Vale de Uspallata que fica a 2 mil metros percebemos melhor a
topografia da cordilheira maravilhados com o espetáculo das montanhas, no dia
seguinte cruzamos para o Chile pelo Parque Nacional Aconcágua, onde fica o
ponto mais alto da América – foi a minha primeira aula de Geologia Explícita.
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Costa do Chile em 1992 |
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Eu e a Chi no Cristo Redentor AR, na frente do Aconcágua na viagem de 2008 |
Digo isso porque enquanto dirijo observo a paisagem se
transformando com olhos de curioso naturalista amador e a geologia se mostra em
todo seu esplendor na cordilheira e nas estepes patagônicas por exemplo. A
forma das rochas, mesetas e penhascos litorâneos da costa Argentina me deixam
curioso quanto a histórica geológica destas paisagens que cruzamos. Sabemos que
em plena estepe cortada pelas retas intermináveis das rutas patagônicas se nos
afastarmos da estrada 90 graus dentro daquela paisagem desértica ao olharmos
para o chão virgem podemos encontrar facilmente fósseis marinhos, conchas e ossos
de peixes.
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Parque Nacional Torres del Paine, Chile 2006 |
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Carretera austral chilena entre dois campos de gelo Norte e Sul 2006 |
Uma das melhores coisas das viagens é o aprendizado
envolvido, as vezes um encontro casual nos ensina muito. Certa vez em 2005 eu e
a Chi atravessávamos a Patagônia Central, saímos de Puerto Madryn a Península
Valdes até Esquel já nas bases da cordilheira. O caminho era uma dessas aulas
de geologia, a estrada acompanhava o Rio Chubut desde a costa, mas o ambiente era a
estepe patagônia desértica. Na ocasião por termos dormido na Punta Norte da
península não consegui carregar a câmera Kodak Digital e estava sem filmes
analógicos, gastei em Valdes, então perdi de registrar essa paisagem.
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Los Altares, ponto onde quebramos no deserto de Chubut em 2005 |
Percebi um mau comportamento elétrico no painel do jipe, as luzes
piscavam aleatoriamente e assustado parei numa baixada ao lado de umas árvores.
Saldo do pit-stop: tínhamos “las roscas del burro-de-arranque” quebradas,
quando percebi que não conseguiria concertar o problema ali naquele ponto do
mapa, fixei o arranque isolei o neutro, para seguir viagem. A mecânica diesel
tem a vantagem de não precisar da eletricidade para funcionar, mas não
conseguiríamos fazer o carro pegar no tranco ali em baixo na areia sozinhos.
Foi aí que apareceram Rodolfo e Beatriz e seus 3 filhos voltando das férias.
Que passa? Disse Rodolfo.
Estoy sin arranque... e aí ele logo se prontificou a
rebocar a Toya para fazer o motor pegar.
Perguntou onde eu estava indo e eu tinha como destino Paso
de los Indios... ele me disse: No ay
nada allá! E nos incentivou oferecendo mais ajuda : Venir a Esquel mi ciudad...
Eles nos ajudaram a dar um tranco no Jipe com sua Chevrolet
Blazer e nos acompanharam até Esquel, nos apontaram uma hospedagem lá e no
outro dia o Rodolfo voltou ao hotel e me levou até uma oficina de confiança.
Rodolfo foi um anjo conforme procurei definir para o Mário,
mecânico que me atendeu em Esquel, - No, disse Mário, es um Gáutcho – assim
mesmo com este acento argentino. E me explicou que o homem bom para eles era
representado por esse Gáutcho do imaginário regional deles. Aprendi vários termos
em mecânica e que o gaúcho para eles lá é um personagem um pouco diferente e
mais ancestral do que o do nosso estado vizinho no Brasil o Rio Grande do Sul.
No ano seguinte ao passar lá em Esquel voltando do sul do
continente na Volta Patagônica que fiz com o Renato Gama visitei a família do
Rodolfo novamente, tomamos um mate, falamos de patagônia e ele ao ver a minha
empolgação pela região, foi a biblioteca e pegou um livro e me deu como um regalo:
Viajem a la patagônia austral de Francisco Pascasio Moreno, o famoso Perito
Moreno.
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Francisco P. Moreno |
Confesso que só fui ler realmente o livro em 20011, quando
aprendi muito mais do que as viagens patagônicas já haviam me ensinado.
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Península Valdes e sua fauna em 2005 na estréia da verdinha nessa vida de overlander. |
Na
verdade, o aprendizado empírico que a observação naturalista me proporcionou nas
viagens somado as explicações do naturalista Perito Moreno ao descrever no
livro a sua Patagônia geológica, biológica e cultural (seguindo os rastros de
Darwin apenas algumas décadas depois) só me fez amar mais ainda a idéia de
dormir novamente no meio da estepe, ou em um vale em meio as montanhas sob
aquele céu magnífico.
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Em algum lugar da Carretera Austral muito ao sul do Chile em 2006, um bom lugar para parar por hoje.... |